Orquestra de Sergipe encerra em SP sua 1ª turnê nacional
“A Orquestra Sinfônica de Sergipe [ORSSE] não é uma orquestra apenas do
Nordeste; é do Brasil”. A definição do pianista Álvaro Siviero,
experiente solista reconhecido nacional e internacionalmente, resume o
sentimento de todos que compareceram à Sala São Paulo na noite do
último domingo, 17, para prestigiar o encerramento da ‘Turnê Brasil’, a
primeira excursão nacional realizada pela Sinfônica sergipana.
Aplaudidos de pé e sob pedidos de bis, os músicos regidos pelo maestro Guilherme Mannis emocionaram a plateia que lotou a maior sala de música da América Latina.
Isso
porque a Sala São Paulo é uma das seis mais importantes salas de música
do mundo e está inclusa no seleto grupo do qual fazem parte o Carnegie Hall, em Nova Iorque; o Musikverein, em Viena; o Concertgebouw, em Amsterdã; o Teatro Colón, em Buenos Aires; e o Santori Hall,
em Tóquio. E foi lá, na sala construída no edifício da Estação Júlio
Prestes, na maior metrópole brasileira, que os músicos da ORSSE puderam
confirmar de forma definitiva diante do exigente público paulista que
estão trilhando o caminho certo para o sucesso do trabalho desenvolvido
com muito esforço e dedicação ao longo dos últimos dois anos.
Para
Éser Menezes, que toca oboé na Orquestra Sinfônica do Estado de São
Paulo (Osesp) e é diretor artístico da Artematriz Soluções Culturais,
empresa que representa músicos em todo o país, a preparação e força de
vontade dos músicos da Orquestra de Sergipe impressionam. “Todos se
apresentam de forma muito coesa, tocam com garra, com vontade, e não de
um modo burocrático. A orquestra está muito bem preparada e tem no
Guilherme Mannis um diretor e regente muito competente”, avaliou o
músico.
Além da garra e determinação, também é preciso muitas
horas de treino e disciplina para que o resultado do trabalho seja
harmonioso. É o que conta o percussionista da ORSSE há sete anos,
Sidclei Santana Santos. Natural do município de Itabaiana, Sidclei toca
desde os 18 anos e começou profissionalmente na filarmônica de sua
cidade. Do início da carreira até a apresentação na Sala São Paulo já
se vão cerca de 20 anos. “Ensaiamos e estudamos no mínimo seis horas
por dia e hoje realizamos um sonho. Estou surpreso com a quantidade de
pessoas que vieram nos prestigiar e feliz porque isso mostra que
estamos no caminho certo”, disse.
O diretor da Faculdade de
Música da Universidade de São Paulo (USP), Olivier Toni, elogiou a
qualidade técnica da orquestra. “Eu li dias atrás no jornal Estadão que
o importante no Brasil não é melhorar uma orquestra só, em referência a
algumas orquestras de São Paulo, e sim que o Brasil tenha boas
orquestras. Por isso fiquei muito contente em ver que Sergipe está
trabalhando seriamente para manter uma boa orquestra sinfônica, o que é
imprescindível”. Em novembro do ano passado, a ORSSE fez sua primeira apresentação fora de Sergipe durante o projeto ‘Música em Cena’, no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo.
Renascimento
O
trabalho de construção de uma Orquestra Sinfônica consistente foi
fortalecido desde o início de 2007 pelo Governo do Estado com a
organização da estrutura administrativa da ORSSE, a contratação de novo
maestro, a seleção primorosa dos profissionais que integram a equipe e
os incentivos ao aperfeiçoamento de todos os músicos. “O Governo do
Estado, inclusive através da participação ativa e entusiasmada do
governador Marcelo Déda, tem se mostrado muito sensível às necessidades
da orquestra”, destacou o maestro paulista Guilherme Mannis, que disse
estar emocionado por fazer um concerto na Sala São Paulo como regente
da Orquestra de Sergipe.
Na avaliação de Mannis, o êxito da
‘Turnê Brasil’, patrocinada pelo Banco do Estado de Sergipe (Banese)
através do Instituto Banese, é o reconhecimento de que a Orquestra
Sinfônica não é apenas um grupo de profissionais dedicados à música
clássica, mas uma organização que, quando fortalecida, pode elevar a
autoestima de seu povo e alavancar o nome de Sergipe nacionalmente. “O
trabalho da orquestra pode ajudar a ampliar a imagem de competência e
perseverança do Estado, que é pequeno, mas capaz de grandes feitos como
o desta noite”, frisou o regente titular.
A atual secretária de
Estado da Comunicação Social, Eloísa Galdino, que assumirá o comando da
secretaria da Cultura, prestigiou a apresentação da ORSSE na Sala São
Paulo. Para ela, a realização da ‘Turnê Brasil’ é um marco para a
história musical e cultural de Sergipe. “Mostramos que a música que
produzimos em Sergipe também é universal e pode penetrar nas mentes e
corações de todos. Basta ver o quão emocionada estava a platéia, que
saiu daqui elogiando o trabalho dos nossos músicos. Isso aumenta,
inclusive, a nossa responsabilidade de fazer com que a ORSSE ganhe cada
vez mais destaque”, ressaltou.
A convite do Governo de Sergipe,
o presidente da fábrica de brinquedos Estrela, Carlos Tilkian, foi com
sua família à apresentação da ORSSE. Impressionado com o que viu, ele
demonstrou interesse em marcar o lançamento da pedra fundamental da
fábrica da Estrela que construirá em Sergipe com um concerto da
Sinfônica do Estado. “Fiquei encantado com o profissionalismo e
qualidade dos músicos e muito feliz enquanto paulista por poder vir à
Sala São Paulo prestigiar um espetáculo tão bonito”, declarou.
Programa
Iniciada em 7 de maio
no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, a ‘Turnê Brasil’ da Orquestra
Sinfônica de Sergipe percorreu outras três cidades brasileiras antes de
chegar a São Paulo: Curitiba (PR), no Teatro Guaíra; Rio de Janeiro (RJ), na sala Cecília Meirelles; Brasília (DF),
no Teatro Nacional Cláudio Santoro. Em todos os locais por onde passou,
a ORSSE apresentou um repertório vibrante, de difícil execução e
técnica muito apurada.
A peça ‘Toronubá’, do gaúcho Dimitri
Cervo, iniciou o programa. Seguindo a orientação do próprio compositor,
os músicos da percussão e o pianista tocam descalços para representar o
povo indígena e travam de modo simbólico a histórica disputa entre os
índios
e o homem branco, representado pelas cordas da orquestra. Na sequência,
a execução da ‘Suíte nº 1 para Orquestra de Câmara’, composta por
Heitor Villa-Lobos, homenageou o ícone da música clássica brasileira no
cinquentenário de sua morte.
Um pequeno intervalo preparou o
público para a segunda parte do concerto, desta vez com a participação
do pianista Álvaro Siviero, renomado músico brasileiro que já tocou em
diversas partes do mundo e participou como convidado de toda a ‘Turnê
Brasil’ da Sinfônica de Sergipe. Juntos, ele e a ORSSE apresentaram o
difícil ‘Concerto para piano e orquestra nº 3, op. 30, em ré menor’, de
Serge Rachmaninoff. É quando o público, já seduzido pela qualidade das
peças apresentadas anteriormente, ovaciona o espetáculo. “Eu hoje
realizei um sonho, que era vir a uma apresentação na Sala São Paulo.
Estar aqui pela primeira vez e ver a Sinfônica de Sergipe foi
maravilhoso”, disse Tomie Seki, natural de São José dos Campos, no
interior de São Paulo.
Acolhida do público
Além
do programa previamente estabelecido, a ORSSE tocou em São Paulo a
‘Variação 18 da rapsódia sobre o tema de Paganini’, a ‘Dança Húngara nº
2’, de Brahms, e encerrou a apresentação com ‘Mourão’, de Guerra Peixe,
peça que cativou o público por conta de suas características
nordestinas. Segundo Erica Menezes, que toca flauta e pícolo na
Orquestra de Sergipe, a qualidade do trabalho impressionou todas as
plateias. “As pessoas simplesmente não esperavam que uma orquestra do
Nordeste tivesse o nível de excelência de orquestras do Sul do país”,
disse ela, natural de Boituva (SP) e ex-integrante da Orquestra
Brasileira de Sopros e das Bandas Sinfônicas de Cubatão e São Paulo.
A
avaliação de Erica foi confirmada por pessoas como as irmãs Marília e
Íris Leal, que se disseram encantadas com a performance da orquestra
sergipana. “É a primeira vez que estou aqui, mas depois desta
apresentação, tenho que vir mais vezes”, disse a dona-de-casa Marília.
“O grupo todo é muito simpático, muito vibrante. Foi nota 10!”,
completou Íris, diretora de escola aposentada.
Para Florentino
Batista, que saiu com a mulher e seus dois filhos da cidade de Bragança
Paulista exclusivamente para prestigiar o concerto da ORSSE, o
sacrifício valeu a pena. “Foi muito bonito”, disse, ao ser interrompido
pelo filho de apenas 10 anos, Humberto. “A gente ouve pelo rádio, mas
ao vivo é bem mais prazeroso”, disse o garoto, demonstrando o gosto da
família pela música clássica. A policial Juliana Lucindo, esposa de
Florentino, também fez questão de dar seu depoimento. “A família toda
gosta de música clássica e é muito bom fazer um programa como esse
trazendo, inclusive, as crianças”, contou.
Evolução
Se
no início da ‘Turnê Brasil’ os músicos estavam mais à vontade porque se
apresentaram para o público ‘de casa’ no Teatro Tobias Barreto, a
acolhida das plateias de Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília não deixou
a desejar, segundo o pianista Álvaro Siviero, que se apresentou com a
ORSSE durante toda a excursão nacional. “A apresentação em Curitiba
teve uma recepção impressionante e trouxe mais segurança aos músicos.
No Rio, o ambiente mais intimista da Sala Cecília Meirelles impulsionou
a orquestra e tivemos lá um dos pontos altos da turnê. Já em Brasília,
apesar do cansaço físico, todos também tocaram muito bem”, relembrou.
Depois
de um descanso de dois dias e com as energias revigoradas, a
apresentação de São Paulo encerrou de forma marcante a temporada pelo
Brasil. “Que espetáculo memorável”, resumiu Siviero. A violoncelista
chefe de naipe da ORSSE, Mariana Aldana, arrematou: “De cada lugar
levamos uma lembrança especial, nunca tocamos do mesmo jeito. Daqui de
São Paulo fica a reação fenomenal do público, o reconhecimento pelo
nosso esforço e a certeza de que vamos trabalhar muito mais para fazer
o melhor que pudermos a cada apresentação”, resumiu.
Fonte: Agência Sergipe de Notícias